terça-feira, 12 de outubro de 2010

SE EU PUDESSE COMEÇAR TUDO DE NOVO

Este é um daqueles artigos que nos transmitem tantos ensinamentos que ficamos com vontade de passar para todas as pessoas. Por isso, resolvi colocá-lo no livro, pois com certeza todas as pessoas que lerem poderão adquirir grandes ensinamentos. Bom proveito.




John M.Drescher



Conselhos experientes de um pastor protestante com cinco filhos, sobre a arte de ser pai.


As palavras jorram da boca do homem sentado à minha frente e seus olhos me imploram ajuda. “Que é que eu devia ter feito de maneira diferente? Se os seus filhos voltassem a ser pequenos, que é que você faria? “ Ele estava experimentando o vazio e a angústia que se apoderam de um homem quando seus filhos se afastam. Sentia que tinha falhado como pai.

Suas perguntas calaram no meu espírito.Que é que eu tinha aprendido com a minha própria experiência como pai e durante os anos em que aconselhara outros pais? Se fosse começar de novo, que faria para melhorar as relações com as crianças? Depois de refletir uns instantes, tomei nota dos pontos que considerava mais importantes.


*-Teria mais amor a minha mulher. Na intimidade da vida familiar é fácil que marido e mulher se habituem de tal modo à presença constante um do outro que deixem que a monotonia interfira em sua relação- coisa capaz de destruir até o amor mais profundo. Por isso eu me esforçaria por amar mais a mãe dos meus filhos, deixando-os presenciar esse amor. Seria mais assíduo em demonstrar pequenas atenções- empurrando sua cadeira à mesa, oferecendo-lhe pequenas lembranças em ocasiões especiais, escrevendo-lhe quando estivesse ausente.


Uma criança que sabe que seus pais se amam não necessita de muitas explicações sobre o caráter do amor de Deus ou sobre a beleza do sexo. Ela sente o amor que existe entre seu pai e sua mãe, e isso a prepara para reconhecer o amor verdadeiro em todas as suas relações futuras. Quando os pais de uma criança costumam andar de mãos dadas, ela dá facilmente a mão a qualquer pessoa; mas se eles caminham sempre separados, ela já não o faz com tanta facilidade.


Será sentimentalismo? Se o é, então quer dizer que precisamos dele em muito maior quantidade. É freqüente haver mais sentimento antes do casamento e menos, depois dele.


*-Eu encorajaria o sentimento de grupo. Se uma criança não sente que pertence à família ( é que a lealdade e o amor fluem entre si e sua família), não demorará muito a encontrar o seu grupo primário noutro lado. Há muitas pessoas que, embora pertencendo ao mesmo agrupamento familiar, vivem em mundos completamente separados. Muitas crianças só estão com os pais à hora do jantar; outras passam dias sem os ver. O tempo que as crianças vivem com os pais chega por vezes a não passar de alguns minutos por semana.


*-Eu aproveitaria a hora das refeições para conversar sobre os acontecimentos do dia, em vez de comer correndo. Tentaria tornar a hora de ir para a cama uma das coisas mais agradáveis. Sei que esse momento pode facilmente se transformar em algo muito tenso, uma vez que todos estamos cansados. No entanto, quando perguntaram a certo jovem “Que é que o faz sentir que pertence à sua família?, ele deu a seguinte resposta: “ Os momentos mais felizes da minha infância foram aqueles em que minha mãe lia para nós antes de a gente ir se deitar.”Sinto pena das crianças e das famílias em que os filhos são enfiados às pressas na cama. Eu, por mim, arranjaria mais tempo para jogos ou planos de que todos pudéssemos participar – criando assim oportunidades de aprender atitudes de honestidade, consideração, respeito mútuo e simpatia.
Quando uma criança sente que pertence à família, possui uma segurança que não lhe pode ser dada por mais nada, e uma estabilidade que a defende contra o desprezo do grupo e a dureza do mundo.
*-Riria mais com meus filhos. Alguém disse que a melhor maneira de fazer bem às crianças é torná-las felizes. Vejo agora que muitas vezes fui sisudo demais. Enquanto meus filhos adoravam rir, eu, de certo modo, pensava que ser pai era unicamente um problema.
Lembro-me das peças cômicas que nossos filhos representavam para nós, das histórias que traziam da escola e das vezes em que caí em suas brincadeiras e jogos de palavras. Foram estas experiências felizes que deram uma dimensão maior ao nosso amor e permitiram que fizéssemos muitas coisas juntos- e são elas que hoje continuam a unir-nos.
*-Ouviria com mais atenção os meus filhos. Para a maioria das pessoas, conversa de criança não passa de um palrear sem importância. No entanto, hoje creio que existe uma relação vital entre escutar as preocupações de uma criança enquanto ela é pequena e quanto ela vai partilhar os seus problemas com os pais quando for adolescente.
Se os meus filhos voltassem a ser pequenos, eu iria me impacientar menos quando eles me interrompessem a leitura. Conheço a história de um garoto que tentou várias vezes mostrar ao pai um arranhão que tinha no dedo. Por fim o pai parou de ler e disse com impaciência: “ Mas que é que você quer que eu faça?” “ Bastava dizer “uhn!” papai”, reclamou o menino.
Certa vez eu estava com um pai a quem um filho pequeno chamava e voltava a chamar, sem que ele lhe respondesse. “É apenas o garoto chamando , disse o homem; e eu pensei comigo: Não será preciso muito para que o pai chame o filho e este diga que é apenas o velho chamando.
*-Seria mais encorajador. Creio que não há nada que estimule mais uma criança a amar a vida, a procurar realizar-se e a ganhar confiança do que elogiá-la sinceramente nos momentos em que proceder bem.
Quando Sir Walter Scott tinha 15 anos , foi certa vez convidado a uma casa onde se encontravam algumas personalidades literárias muito conhecidas. Robert Burns estava admirando um quadro que tinha uns versos escritos por baixo e perguntou quem era o autor. Ninguém parecia saber a resposta, até que por fim o jovem Scott disse quem era. Consta que Burns , surpreendido e encantado, exclamou: “Ora veja! Um dia você ainda vai ser um grande homem na Escócia!” A partir de então, Walter tornou-se um rapaz diferente, que confiava na sua própria grandeza.


Tenho certeza de que o encorajar é uma disciplina melhor que o culpar ou repreender. Isso de criticar sempre tira da criança a segurança em si mesma, enquanto encorajá-la lhe dá confiança e a ajuda a amadurecer. No mais profundo da natureza humana, há sempre o desejo de ser admirado.


Assim, se eu estivesse começando a formar família, insistiria no elogio diário, recordando o conselho de Goethe de ver não só o que a criança é agora, mas aquilo que poderá vir a ser.


*-Procuraria dar a conhecer Deus mais intimamente. Não somos pessoas completas se insistirmos unicamente no nosso lado físico, social e intelectual. Nós somos seres espirituais. Se o mundo é conhecer Deus e a sua vontade, então os pais devem ser os primeiros a transmitir isso. Pela minha parte eu tentaria partilhar minha fé com as crianças aproveitando ambientes informais e acontecimentos não planejados. Daria mais atenção às coisas que meu filho descobrisse ou que o preocupassem, e encontraria neste procedimento uma maneira natural de discutir verdades espirituais.,


Perguntaram certa vez a um célebre professor inglês: “ Em que parte do seu programa inclui você o ensino da religião? “ “ Ensinamo-la o dia inteiro” , respondeu. “Ensinamo-la na matemática, pela precisão; na literatura, aprendendo a saber dizer aquilo que queremos; na história, pela humanidade; na geografia, alargando o espírito; nos trabalhos manuais , pela perfeição; e nos jogos, pela honestidade. Ensinamos religião ensinando a tratar bem os animais a ter maneiras e a ser verdadeiro em todas as coisas”


Lembro-me de um menino que numa noite, cheio de medo dos trovões, chamou: “ Vem aqui, papai. Estou morrendo de medo!” “ Meu filho” , respondeu o pai, “ Deus o ama e cuidará de você.” “ Eu sei que Deus me ama”, volveu o garoto” mas o que quero agora é alguém de carne e osso.”


Se eu começasse de novo a minha família, era isso que eu quereria ser acima de tudo: o amor de Deus, mas em carne e osso.



John M.Drescher
Transcrito por
Paulo Mascarenhas

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