segunda-feira, 22 de março de 2010

Hermenêutica Bíblica

1 – Glossário

1 – 1 – Hermenêutica - É a ciência e a arte que estuda a interpretação da

Bíblia.

Ciência porque estabelece regras positivas e invariáveis

Arte porque as suas regras são práticas.

[Do grego hermeneuticós] Ciência que tem por principal objectivo descobrir

o verdadeiro significado de um texto.

É a base para toda a crítica filológica.

Quando empregada nas Sagradas Escrituras a sua missão passa a ser

interpretar o que realmente Deus quer revelar através da Bíblia.

1 – 2 – Exegese - É a aplicação das regras estabelecidas pela


hermenêutica.

[Do grego ek + egéomai] Literalmente, arranco do texto.

É a prática da hermenêutica sagrada que busca a real interpretação dos

textos que formam o Antigo e o Novo Testamento. Vale-se, pois, do

conhecimento das línguas originais (hebraico, aramaico e grego), da

confrontação dos diversos textos bíblicos e das técnicas aplicadas na

linguística e na filosofia.

2 – EXEGESE

2.1 - A exegese é distribuída em 5 bases:

a) Exegese Estrutural - Doutrina que sustenta que o significado do texto

bíblico está além do processo de composição e das intenções do autor.

.../...

b) Exegese Gramático-histórica - princípio de interpretação bíblica que

leva em conta apenas a sintaxe e o contexto histórico no qual foi

composta a Bíblia. .../...

c) Exegese Teológica - Princípio de interpretação bíblica que toma por

parâmetro as doutrinas sistematizadas pelos estudiosos da Igreja. .../...

d) Texto e Contexto - O texto bíblico é a passagem focalizada como um

todo significado dependente do contexto para interpretação.

O contexto é o que vem antes e depois do texto .../...

e) Contexto Bíblico e Histórico - O contexto bíblico realiza-se na própria

Bíblia.

O Contexto histórico leva em consideração a época em o autor escreveu.

Nalguns casos a própria Bíblia oferece o contexto histórico, mas

noutros, é preciso recorrer a livros que abordem questões culturais e

históricas.

2.2 - A exegese é dividida em 2 tipos:

a) Exegese Rabínica - Os judeus interpretavam a Escritura letra a letra,

por causa da noção de inspiração que tinham. Se uma palavra não tinha

sentido perceptível imediatamente, eles usavam artifícios intelectuais,

para lhe dar um sentido, porque todas as palavras da Bíblia tinham que

ter uma explicação. .../...

A Igreja primitiva herdou muito do rabinismo.

Hermenêutica Bíblica

Samuel Pereira 2002 – EBS - Pág. 2

Eles encontraram nela vários sentidos, a saber: literal, pleno e

acomodatício

Literal: Sentido inerente às palavras, expressão pura e simples da ideia do

autor.

Pleno: fundado no literal, mas que tem um aprofundamento não revelado

pelo autor. Deus.

A palavra do profeta refere uma situação histórica; a apalavra de Deus

refere o futuro.

Acomodatício: é a acomodação a um sentido à parte que combina com as

palavras. É a Bíblia aplicada à realidade apenas pela coincidência dos textos.

Por exemplo, em Mateus se lê “do Egito chamei meu filho” ...para que se

cumprisse a Escritura. Mas o sentido, ou seja, a aplicação original deste

trecho não se referia ao Filho de Deus, mas à saída do Povo do Egipto.

Outro exemplo de acomodação é a aplicação a Maria dos textos do livro da

Sabedoria. Estes são mais literatura que Escritura. Todavia, crendo-se na

inspiração, aceita-se que as palavras do autor podem Ter uma significação

mais profundo que a original.

b) Exegese Católica

Na exegese católica, partia-se dos escritos dos pais da Igreja para a Bíblia.

Para a cristandade defensora dessa exegese, a Bíblia dizia aquilo que os pais

da Igreja já haviam dito. Hugo de São Vítor chegou a dizer: “aprende

primeiro o que deves crer e então vai à Bíblia para encontrares a

confirmação”. Principalmente na idade média, a exegese esteve de mãos

atadas pelas tradições e pela autoridade dos concílios. A regra era apegar-se

ao máximo aos métodos tradicionais de interpretação valorizando mais a

tradição e menos a Bíblia.../...

c) Exegese Protestante

Surgiu do protesto de alguns cristãos contra a autoridade da Igreja como

intérprete fiel da Bíblia. Lutero instituiu o princípio da “sola scriptura” (só a

Escritura), sem tradição, sem autoridade, sem outra prova que não a própria

Bíblia. A partir daquele instante, os Protestantes dedicaram-se ao estudo

mais profundo da Bíblia, antecipando-se mesmo aos Católicos.

Mas o princípio posto por Lutero possibilitou um desastre hermenêutico, pois

ele mesmo disse que cada um interpretasse a Bíblia como entendesse, isto

é, como o Espírito Santo o iluminasse.

Por causa deste entendimento de Lutero surgiram várias correntes de

interpretação, que podem se resumir em Três: a conservadora, a

racionalista e a Hegeliana.

􀂙 A conservadora parte daquele princípio da inspiração como ditado, em

que se consideram até os pontos massoréticos como inspirados. Não se

deve aplicar qualquer método científico para entender o que está

escrito. É só ler e, do modo que Deus quiser, se compreende.

􀂙 A racionalista foi influenciada pelo iluminismo e começou a negar os

milagres. Daí passou-se à negação de certos factos, como os referentes

a Abraão. Afirmam que as narrações descritas, como prova o

vocabulário, os costumes, são coisas de uma época posterior, atribuído

àquela por ignorância. Esta teoria teve muito sucesso e começaram a

surgir várias ‘vidas’ de Jesus em que ele era apresentado como um

pregador popular, frustrado, fracassado.

􀂙 Hegeliana. Nessa perspectiva, o apóstolo Paulo, entusiasmado, teria

feito uma doutrina, que a atribuiu a Cristo (tese). Depois, João, com seu

Evangelho constituiu a antítese. Finalmente São Marcos fez a síntese.



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Samuel Pereira 2002 – EBS - Pág. 3

3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EXEGESE

Dez princípios básicos para a Interpretação Bíblica

1. Denomina-se princípio da unidade escriturística. Sob a inspiração divina a

Bíblia ensina apenas uma teologia. Não pode haver diferença doutrinária

entre um livro e outro da Bíblia;

2. Aprender a ler cuidadosamente o texto .Ter atenção com as virgulas,

pontos finais e parágrafos, pontos de exclamação e interrogação, dois

pontos e ponto e virgula.

3. A Bíblia interpreta a própria Bíblia. Este princípio vem da Reforma

Protestante. O sentido mais claro e mais fácil de uma passagem explica

outra com o sentido mais difícil e mais obscuro.

4. Jamais esquecer a Regra Áurea da Interpretação, chamada por Orígenes

de Analogia da Fé. O texto deve ser interpretado através do conjunto das

Escrituras e nunca através de textos isolados.

5. Sempre ter em vista o contexto. Ler o que está antes e o que vem depois

para concluir aquilo que o autor tinha em mente.

6. Primeiro procura-se o sentido literal, a menos que as evidências

demonstrem que este é figurativo.

7. Ler o texto em todas nas traduções mais verosímeis.

8. O trabalho de interpretação é científico e espiritual, por isso deve ser feito

com isenção de ânimo e tentando-se desprender de qualquer preconceito .

9. Fazer algumas perguntas relacionadas com a passagem para chegar a

conclusões circunstanciais. Por exemplo: a) Quem escreveu? b) Quando e

onde foi escrito? c) Qual o tema ou a razão principal do escritor? d) A quem

se dirigiu o escritor?

10. Feita a exegese, se o resultado obtido contrariar os princípios

fundamentais da Bíblia, ele deve ser colocado de lado.

4 - A LINGUAGEM DA BÍBLIA

4.1 – Inspiração Divina. Segundo o testemunho da própria Escritura

Sagrada, ela foi divinamente inspirada, útil para o ensino, para a

repreensão, para a correcção, para a educação na justiça, com o fim do

homem de Deus ser perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa

obra”. Numa palavra, a Escritura tem por objectivo fazer o homem “sábio

para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (II Tm.3.15,16).

4.2 – Simplicidade. O entendimento da bíblia é simples para o sábio .

(Aquele que tem a instrução Professor Deus).

4.3 – Exortações, Obrigações, Promessas e Deveres . A cada passo as

páginas da biblia revela grandes princípios cristãos expressos em linguagem

simples e clara, evidente e palpável.

4.4 – História, narrativas e profecias. A forma descritiva das passagens

difere dos autores humanos, mas não altera o principio divino.

4.5 – Grego e Hebraico. Os textos do Antigo testamento estão escritos

em Hebraico, língua dos judeus enquanto que os escritos do Novo

Testamento foram escritos em Grego.

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5. FIGURAS DE LINGUAGEM NO TEXTO BÍBLICO

5.1 Metáfora: é a figura em que se afirma que alguma coisa é o que ela

representa ou simboliza, ou com o que se compara. (Zc.3.8).

5.2 Símile: também afirma que alguma coisa é o que ela representa ou

simboliza, sendo que apresenta um elemento comparador. (Is.53.2).

5.3 Metonímia: o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que

tem certa relação (Gn.25.26; Lc.16.29; Gn.41.13; Jó.32.7)

5.4 Sinédoque: a substituição de uma ideia por outra que lhe é associada

(Mt.3.5; 6.11; Gn.3.19; 19.20).

5.5 Hipérbole: É a afirmação em que as palavras vão além da realidade

literal das coisas (Dt.1.28).

5.6 Ironia: É a expressão dum pensamento em palavras que, literalmente

entendidas, exprimem sentido oposto (Gn.3.22;Jz.10.14; Jó.12.2; Mt.27.40).

5.7 Prosopopeia: É a personificação de coisas ou de seres irracionais

(Sl.35.10; Jó.12.7; Gn.4.4).

5.8 Antropomorfismo: É a linguagem que atribui a Deus acções e

faculdades humanas, e até órgãos e membros do corpo humano (Gn.8.12;

Sl.74.11).

5.9 Enigma: É a enunciação duma ideia em linguagem difícil de entender.

(Jz.14.14)

5.10 Alegoria: É a narrativa em que as pessoas representam ideias ou

princípios (Gl.4.21-31).

5.11 Parábolas: É uma forma de história colhida da natureza ou de

ocorrências diárias normais, que lança luz sobre uma lição moral ou

religiosa.../...

5.12 Profecia: A profecia da Escritura pode ser definida como a inspirada

declaração da vontade e propósitos divinos. (Ver. Is.61.1,2; Lc.4.21). Não se

deve esquecer que Jesus é o tema de toda a profecia (I Pe.1.10,11).

5.13 Tipos: É uma classe de metáforas que não consiste meramente em

palavras, mas em factos, pessoas ou objectos que designam factos

semelhantes, pessoas, ou objectos no porvir (Hb.9.8,9; Jo.3.14; Mt.12.40).

5.14 Símbolos: É uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma

coisa ou algum facto, por meio doutra coisa ou facto conhecido, para servir

de semelhança ou representação. É diferente do tipo por não prefigurar a

coisa que representa. Ele simplesmente representa o objecto (Ap.5.5; I

Pe.5.8; Js.2.18). Os símbolos podem ser apresentados na forma de

objectos (sangue, ouro, etc.); nomes (Abraão, Israel, Jacó, etc);

números (seis, sete, oito, etc.) e cores (púrpura, escarlate, etc.).

5.15 Poesia: é a mensagem de Deus revelada através do lirismo da poesia

judaica. Está presente desde Génesis até o Apocalipse. A poesia hebraica

não possui rima. Composta por paralelismo: sinônimico – o segundo verso

repete com sinónimos (Sl.20.2,3; Pv.23.24,25); antitético – o segundo verso

é uma antítese ao primeiro. (Sl.1.6; 71.7; Pv.12.1,2) e sintético – o segundo

verso amplia a mensagem do primeiro (Sl.19.7; 119.97,103; Pv.23.23).

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6 – REGRAS PARA EXEGESE

6.1 Interpretar lexicalmente: É conhecer a etimologia das palavras, o

desenvolvimento histórico de seu significados e o seu uso no texto sob

consideração. Esta informação pode ser conseguida com a ajuda de bons

dicionários

6.2 Interpretar sintacticamente: O intérprete deve conhecer os

princípios gramaticais da língua na qual o documento está escrito, para

primeiro, ser interpretado como foi escrito. .../...

6.3 Interpretar contextualmente. Deve-se ter em mente a inclinação do

pensamento de todo o texto. Então pode-se notar a “cor do pensamento”,

que cerca a passagem que está sendo estudada. A divisão em versículos e

capítulos facilita a procura e a leitura, mas não deve ser utilizada como guia

para delimitação do pensamento do autor. .../...

6.4 Interpretar historicamente: O intérprete conhecer as maneiras,

costumes, e psicologia do povo no meio do qual o escrito foi produzido.

7. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

7.1 : Estuda a Bíblia partindo do pressuposto de que ela é a autoridade

suprema em questões de religião, fé e doutrina. A autoridade tem a ver

com a vontade, com a obediência e com o fazer (Mt.7.29).

7.2: Não esqueças que a Bíblia é a melhor intérprete de si mesma, isto é: a

Bíblia interpreta a Bíblia. Os maiores inimigos da Bíblia não são seus

opositores, mas os seus expositores que tentam encontrar na Bíblia defesa

para as suas ideias absurdas (Gn.3.1-5). Vidé as seitas ditas cristãs.

7.3: Depende da fé salvadora e do Espírito Santo a compreensão e

interpretação da Escritura. (II Co.4.4)

7.4: Interpreta a experiência pessoal à luz das Escrituras e não as Escrituras

à luz da experiência pessoal.../...

7.5: Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando amparados por

uma ordem que os faça mandamento universal. O exemplo de cada pessoa

que protagoniza os acontecimentos podem não ser realizáveis por qualquer.

(Gn.9.20,21; Lc.13.32).

7.6: O principal propósito da Escritura é mudar nossas vidas e não

multiplicar nossos conhecimentos.

7.7: Apesar da importância da história da Igreja, ela não chega a ser

decisiva na fiel interpretação da Escritura. Devemos afirmar que a Igreja

não determina o que a Bíblia ensina; antes a Bíblia é que determina o que a

Igreja deve ensinar.

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8 – MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA

Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento

seguido passo a passo, cujo objectivo é levar o estudante a uma conclusão.

8.1 Método Analítico – Analisar algo é estudar em seus pormenores,

detalhe por detalhe, tendo o cuidado de anotar os aspectos por menores

que eles sejam e por mais insignificantes que eles pareçam ser.

É o método microscópico.

8.2 Método Sintético – Aborda cada livro como uma unidade inteira e

procura entender o seu sentido como um todo. Procura analisar o livro de

forma global.

É o método telescópico.

8.3 Método Temático – É o método de estudo de um tema específico.

8.4 Método Biográfico – Aborda narrativas e exposições biográficas de

personagens bíblicos .

8.5 Método Histórico – É o método de estudo com sentido histórico de

livros ou passagens bíblicas. Consideram-se os factos contemporâneos,

lugares, tendências, movimentos e outras questões.

8.6 Método Teológico – É o método de estudo onde se sistematiza as

doutrinas bíblicas. .../....

8.7 Método Devocional – É o método de estudo da Bíblia com fins de

aplicar várias passagens às necessidades particulares do crente.

“nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a

profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da

parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (II Pe.1.20,21).
 
Referências bibliográficas


Andrade, C. C. de. Dicionário Teológico.

Rio de Janeiro: CPAD, 1996. Lund, E. &

Nelson P. C. Hermenêutica. 14ª ed. São

Paulo: Vida, 1998. Oliveira, R. Como

estudar e interpretar a Bíblia. Rio de

Janeiro: CPAD, 1986. Veloso, A. Como

estudar a Bíblia. São Paulo: Novas Edições

Líderes Evangélicos, 1989.

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